Em uma demonstração clara de suas ambições crescentes na política americana, Elon Musk revelou que seu apoio à campanha vitoriosa de Donald Trump é apenas o primeiro passo de uma estratégia mais ampla de influência governamental.

    O bilionário, que investiu US$ 118 milhões do próprio bolso na campanha através do America PAC, já viu um retorno expressivo de US$ 20 bilhões em suas empresas logo após a confirmação da vitória republicana, sinalizando o potencial impacto de sua nova posição política.

    Durante transmissão ao vivo realizada no dia da eleição, a bordo de seu jato particular rumo à Flórida, Musk declarou que o America PAC continuará atuante após o pleito, focando nas eleições de meio de mandato e outras disputas intermediárias. “Vai influenciar fortemente”, garantiu o empresário.

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    O proprietário da plataforma X (antigo Twitter) possui características únicas que o diferenciam de outros doadores políticos tradicionais: além de sua fortuna estimada em US$ 260 bilhões, ele comanda uma das maiores redes sociais do mundo e possui um séquito de seguidores altamente engajados.

    Tyler Brown, ex-diretor digital do Comitê Nacional Republicano, destaca ao Washington Post a singularidade dessa combinação: “Você tem o homem mais rico do mundo, que também é o dono do maior quadro de mensagens políticas online, que também é um dos mais proeminentes representantes do Partido Republicano“.

    Trump já anunciou publicamente que Musk assumirá o cargo de “secretário de corte de custos”, liderando o novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), com a ambiciosa meta de reduzir US$ 2 trilhões em gastos federais – valor superior aos orçamentos combinados dos Departamentos de Defesa, Educação e Segurança Interna.

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    Reprodução/AP

    Em discurso no Madison Square Garden, dois dias antes da eleição, Musk prometeu: “Vamos tirar o governo das suas costas e do seu bolso. Seu dinheiro está sendo desperdiçado e o Departamento de Eficiência Governamental vai consertar isso“.

    O bilionário já iniciou articulações com Howard Lutnick, copresidente da equipe de transição e potencial secretário do Tesouro, para estruturar as operações do novo departamento. A parceria foi celebrada publicamente nas redes sociais e conta com o apoio de figuras importantes do partido.

    Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara e aliado de Trump, demonstra otimismo com a parceria: “Você terá dois empreendedores muito agressivos trabalhando juntos nas respostas. Nada que Musk faz leva tempo. Howard é muito parecido, e eles já estão reunindo ideias”.

    Contudo, nem todos compartilham desse entusiasmo. Holtz-Eakin, presidente do American Action Forum, questiona a viabilidade dos planos: “A noção de que qualquer indivíduo terá autoridade para remodelar sozinho o governo federal é ingênua. Ele está dizendo US$ 2 trilhões em cortes. Sob qual autoridade? Como? É impossível”.

    Especialistas apontam possíveis conflitos de interesse, já que empresas de Musk – SpaceX e Tesla – mantêm importantes contratos federais. Segundo o The New York Times, ele já teria solicitado a nomeação de funcionários da SpaceX para cargos estratégicos no governo, especialmente no Departamento de Defesa.

    A preocupação se estende às agências espaciais, com rumores de que Musk poderia pressionar a NASA a priorizar missões a Marte em detrimento dos atuais projetos lunares. O Pentágono também demonstra apreensão quanto à dependência dos serviços da SpaceX para lançamentos espaciais.

    Scott Amey, conselheiro geral do Project on Government Oversight, alerta sobre os riscos: “Ter um bom amigo na Casa Branca pode ser algo muito bom para a Tesla e a SpaceX. Você tem que se preocupar com decisões que não são as melhores para os contribuintes quando você tem esse tipo de relacionamento“.

    Um ex-funcionário do governo Trump, que falou ao Washington Post sob condição de anonimato, lembra que o republicano costumava mudar de ideia sobre cortes orçamentários após ser influenciado por aliados políticos ou programas de TV, sugerindo que os planos ambiciosos de Musk podem encontrar obstáculos práticos.

    Fonte: The Washington Post / The New York Times

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